As estradas mais difíceis levam a destinos mais lindos
Por Jairo de Paula
Ouvi essa frase em algum lugar — “As estradas mais difíceis levam a destinos mais lindos.”
Ela entrou em mim como quem bate na porta da consciência com suavidade… e, ainda assim, com uma força capaz de despertar algo antigo, adormecido, essencial.
Porque, na verdade, não são as estradas fáceis que nos transformam.
São aquelas que exigem de nós mais do que estávamos dispostos a oferecer; aquelas que cobram coragem quando o medo domina; aquelas que pedem resiliência quando a vontade é desistir; aquelas que apertam a alma só para revelar o que ela tem de precioso.
A beleza não está apenas no destino — está em quem nos tornamos no caminho.
As estradas difíceis não nos enfeitam.
Elas nos lapidam.
No consultório, costumo dizer que o sofrimento não é um castigo, mas um convite.
Convite a olhar para dentro, a reorganizar o que se quebrou, a revisitar dores antigas que pedem resolução.
E, talvez, a maior verdade sobre essas estradas tortuosas seja esta:
Elas não têm a função de nos punir.
Têm a função de nos revelar.
O que as estradas difíceis fazem conosco?
Elas nos obrigam a decidir o que carregamos.
Algumas cargas se mostram inúteis, outras revelam o peso real que sempre escondemos.
Elas nos ensinam sutilezas:
– o silêncio nos ajuda mais que qualquer opinião,
– a pausa não é fraqueza,
– vulnerabilidade é força,
– continuar não significa não sentir dor,
– e que, às vezes, a resposta não está em seguir forte, mas em seguir verdadeiro.
O caminho difícil tem uma pedagogia própria:
não nos entrega atalhos, mas nos oferece consciência.
O destino lindo não é um lugar. É uma versão sua.
Quando finalmente chegamos — e chegamos — percebemos que aquilo que chamávamos de “destino lindo” não era uma paisagem externa, um final feliz construído do lado de fora, um ponto de chegada iluminado.
O destino lindo é a pessoa que conseguimos nos tornar depois de atravessar o terreno acidentado de nós mesmos.
É o sujeito que aprendeu a dizer não.
É o que aprendeu a se respeitar.
É o que escolheu a verdade, mesmo quando ela doeu.
É o que parou de tentar caber e começou a existir.
É o que se reencontrou depois de perder tantas versões pelo caminho.
O destino lindo é sempre interior.
E, no fundo, o que essa frase nos lembra?
Que vale a pena continuar.
Que vale a pena atravessar.
Que vale a pena insistir em nós mesmos.
E que a estrada difícil é só o caminho que a vida escolheu para nos conduzir a uma beleza que ainda não sabemos ver — mas que já existe, esperando que a gente chegue.
Sobre o Autor – Dr. Jairo de Paula
Jairo de Paula é doutor em Psicanálise, escritor e conferencista internacional, autor de 35 livros — entre eles os best-sellers “Uma Marca Chamada VOCÊ” e “INCLUSÃO – mais do que um desafio escolar, um desafio SOCIAL”. Com mais de 10.000 atendimentos clínicos realizados, alia escuta sensível à experiência acadêmica com doutorado em Psicanálise, além de pesquisador em Gestão do Capital Intelectual e criador de programas inovadores como “FAMÍLIA & ESCOLA”. Pensador inquieto e apaixonado por conhecimento, acredita que a verdadeira transformação nasce do poder da escuta e da escolha diária pela felicidade.