Eu aceito a grande aventura de ser eu

Eu aceito a grande aventura de ser eu

Por: Jairo de Paula

Há frases que não são apenas palavras — são chaves.
A de Clarice Lispector, “Eu aceito a grande aventura de ser eu”, abre portas interiores que muitos evitam atravessar.
Assumir a própria identidade é um ato de coragem que exige maturidade emocional e, sobretudo, uma honestidade radical consigo mesmo.

Clarice sempre escreveu como quem dialoga com a alma.
Ela convida — nunca obriga.
Provoca — mas não fere.
E, ao nos convocar a “ser nós mesmos”, ela nos devolve ao ponto onde tudo começa: o encontro íntimo com aquilo que realmente somos, antes dos medos, das expectativas e das máscaras.

Assumir-se não é um ato teatral.
É um ato de verdade.

VITRIOL: a descida necessária

Na minha jornada como psicanalista — e como sujeito — compreendi que aceitar a aventura de ser quem sou me exige visitar meu próprio subterrâneo.

V.I.T.R.I.O.L.
Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem.
Visita o interior da terra e, ao retificar, encontrarás a pedra oculta.

Essa máxima alquímica sempre me atravessou como metáfora psicanalítica.
A “terra interior” é o lugar onde guardamos:

– memórias que doem,
– desejos que esquecemos,
– medos que domesticamos,
– partes nossas que tentamos esconder.

E, paradoxalmente, é ali — no subsolo da psique — que a pedra oculta repousa:
a essência, o núcleo, o que realmente nos constitui.

Clarice chamaria isso de “eu-mesmo antes das palavras”.
A psicanálise chama de sujeito.
A alquimia chama de pedra.
Eu chamo de reencontro.

Ser quem se é só se torna possível depois dessa descida simbólica.
Só quem visita suas profundezas internas pode emergir com identidade própria e não com identidades emprestadas.

Os personagens que habitam a nossa vida

No trabalho, usamos roupas específicas — e personagens específicos.
Na família, desempenhamos papéis que herdamos antes mesmo de entender quem somos.
Nos relacionamentos, vestimos máscaras para não perder o outro — e às vezes perdemos a nós mesmos.

Não fazemos isso por mal.
Fazemos por sobrevivência emocional.

Mas há um momento em que o excesso de personagens nos exaure.
E percebemos que, embora façam parte da caminhada, eles não podem ser a morada final.

Clarice nos ensinou, com sua escrita instintiva, que tirar uma máscara não é um ato de rebeldia — é um ato de verdade.
E que se despir dos papéis impostos exige respeito, consciência e gentileza.

Afinal, por trás de toda máscara existe alguém pedindo para respirar.

Conselhos motivacionais para uma vida emocionalmente saudável

Aceitar a aventura de ser você implica cultivar algumas práticas internas:

Acolha suas fragilidades sem vergonha; elas falam sobre sua humanidade.
Permita-se sentir, mesmo quando o sentimento não for bonito.
Faça escolhas que reflitam sua verdade, não o que esperam de você.
Estabeleça limites saudáveis para não se perder nas demandas alheias.
Reduza a autocobrança e aumente a autoescuta.
Viva com autenticidade, ainda que imperfeita — é a única forma de viver com inteireza.

Isso não é egoísmo.
É autocuidado existencial.

Conclusão: o chamado de Clarice

Clarice escreveu:
“Eu aceito a grande aventura de ser eu.”

E, ao aceitar essa aventura, assumimos também o risco da profundidade, da verdade e do autoconhecimento.

Ser quem se é não é arrogância.
É libertação.

Não é grito.
É retorno.

E, no fim, a aventura não está em se tornar alguém — está em deixar de fugir de si.

Que cada leitor, ao terminar este texto, tenha coragem de fazer o mesmo convite a si mesmo:

“Eu me aceito.
Eu me visito.
Eu me descubro.
Eu me permito ser.”

Porque a maior aventura da vida não é viver o que o mundo exige —
é viver aquilo que a alma clama.

Sobre o Autor – Dr. Jairo de PaulaJairo de Paula é doutor em Psicanálise, escritor e conferencista internacional, autor de 35 livros — entre eles os best-sellers “Uma Marca Chamada VOCÊ” e “INCLUSÃO – mais do que um desafio escolar, um desafio SOCIAL”. Com mais de 10.000 atendimentos clínicos realizados, alia escuta sensível à experiência acadêmica com doutorado em Psicanálise, além de pesquisador em Gestão do Capital Intelectual e criador de programas inovadores como “FAMÍLIA & ESCOLA”. Pensador inquieto e apaixonado por conhecimento, acredita que a verdadeira transformação nasce do poder da escuta e da escolha diária pela felicidade.